domingo, 17 de abril de 2011

A influência da relação afetiva no processo de escolarização

             A relação afetiva em sala de aula é um tema que tem despertado bastante interesse no âmbito educacional. Cada vez mais é indissociável o poder da afetividade em sala como ajuda no sucesso ou fracasso no processo de escolarização. Tanto alunos como professores percebem esta importância, mesmo que esta percepção seja de forma implícita.
          O ritmo de vida mudou muito nos últimos anos, e alguns professores não conseguem acompanhar estas mudanças, ou simplesmente se negam a enfrentar os avanços tecnológicos, influenciando direta ou indiretamente na metodologia a ser aplicada, o que muitas vezes dificulta no processo de ensino e aprendizagem. Estes avanços tecnológicos roubam cada vez mais a atenção dos nossos alunos e se o professor não tiver “jogo de cintura” não consegue obter sucesso nos seus objetivos educacionais.
           Esta proximidade com o aluno é uma das formas da influência da relação professor aluno no processo de escolarização. Através de uma aproximação agradável, utilizando a mesma linguagem que nossos alunos usam e despertando o interesse, podemos prender a atenção deles e assim, competir com a tecnologia e a globalização.
           Existe como forma de influência na relação professor-aluno também a carência do aluno, a necessidade de atenção, o tratamento individualizado (pois cada aluno já vem com experiências, costumes e saberes próprios), a preocupação com a homogeneização da compreensão dos assuntos passados para a turma (já que cada aluno tem o seu ritmo de compreensão), dentre outros.
          Portanto, há a necessidade também, de um esclarecimento maior sobre os aspectos afetivos envolvidos no processo de escolarização, em virtude das constantes confusões que se costuma fazer entre compromisso, sentimentos, emoções, preconceitos, que estão presentes em qualquer relação social. Tal esclarecimento contribui para um melhor entendimento sobre todos os fatores afetivos que interferem no processo ensino-aprendizagem na medida em que pode subsidiar formas de administrar todos esses fatores.
         Para se falar sobre a relação afetiva entre os professores e os alunos, seria imprescindível, antes de mais nada, se falar sobre a diferença existente entre professores e educadores.
         Professores, há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança.
Alves, 1986
        Segundo Alves (1986) realizamos um salto de educadores para professores, assim como também o realizamos de pessoas para funções. É função do professor ajudar ao educando a tornar-se um sujeito social e reflexivo perante as leis e decisões que são apresentadas “democraticamente” para que possam, assim, se posicionar e criticar buscando o aperfeiçoamento da sociedade (Freire, 2000).
       Partindo desse pressuposto, o educador passa a ser, freqüentemente, um mau funcionário, pois o ritmo do mundo do educador não segue o ritmo do mundo da instituição, pois, ser educador vai além de cumprir obrigações e horários.
      “Eu diria que os educadores são como velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma estória a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma “entidade” portador de um nome, também de uma estória, sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo para acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece a dois. Espaço artesanal.
      Mas os professores são habitantes de um mundo diferente, onde o “educador” pouco importa, pois o que interessa é um “crédito” cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isto mesmo professores são entidades “descartáveis”, da mesma forma como há canetas descartáveis...”  (Alves, 1986 p.13)
      Sendo assim, notamos o quanto a identidade de um sujeito foi substituída pela função, onde o que somos é automaticamente o que fazemos e cada vez mais o que importa para o professor é a quantidade de conteúdos que ele consegue passar para os seus alunos que, como diz Freire (2000) sofrem com a tirania da autoridade, pois os alunos bem comportados são aqueles que ficam pregados nas cadeiras a aula inteira, calados sem questionar, tirar dúvidas, aprofundar o assunto.
     Apesar de que há, também, aqueles professores que agem com os alunos deixando-os “livres demais”. Essa liberdade excessiva termina por tornar-se licenciosidade e a conseqüência é a falta do “controle” da turma, onde o professor não consegue nem manter o respeito dentro da sala, gerando uma “indisciplina coletiva”.
Freire (2000) complementa Alves (1986) que diz:
“Seria possível, então, compreender que a polaridade entre duas classes de pessoas, uma inexistente e heróica, outra existente e vulgar, mas antes uma dialética que nos racha a todos, pelo meio, porque todos somos educadores e professores, águias e carneiros profetas e sacerdotes, reprimidos e repressores... E eu pensaria que o acordar mágico do educador tem então de passar por um ato de regeneração do nosso discurso, o que sem dúvida exige fé e coragem: coragem para dizer em aberto os sonhos que nos fazem tremer.” ( Alves, 1986)
    
Portanto, para que se compreenda a importância da relação professor aluno, é importante também que se compreenda a importância de ser educador, a missão que o educador tem de “orientar” o educando para a vida em sociedade.
Em
pesquisa feita através de textos descritivos sobre como seria um bom professor, os alunos confirmam a importância dessa proximidade. Os resultados descritos adiante foram para classificar os adjetivos atribuídos aos professores pelos seus alunos, por se tratarem de vivências distintas. Foram analisadas 15 redações no Colégio Público transcrevendo os adjetivos que eles acham mais importantes no professor. Podemos observar que os alunos pontuam que uma boa professora tem que ser “legal”, “amiga” e “atenciosa”, comprovando o que já foi citado, demonstrando assim, ao nosso ver, a importância dada pelo aluno à relação de afeto que existe entre eles e seus professores, confirmando o que disseram Gadotti (1985), Freire (1987), entre outros.  Outros adjetivos foram citados, apenas uma vez, tais como: “paciente”, “jovem”, “dedicada”. Houve redações em que os alunos citaram mais de um adjetivo. Um outro aspecto observado nas redações dos alunos foi que na sua avaliação de uma "boa professora" referiram-se, também, ao seu trabalho. Outras descrições, sobre o trabalho da professora, apareceram apenas uma vez, como: “pontual”, “rigorosa”, “utiliza diálogo em sala”, “sério”, “interessante”, “aulas divertidas”, “excelente”, “de responsabilidade”, “cansativo”. Podemos observar que os alunos também se preocupam com os aspectos metodológicos utilizados pelo professor, tendo citado mais vezes "explica muito bem", "atende aos pedidos dos alunos, sendo exigente na hora certa" e "explica quantas vezes precisar", evidenciando a questão da confiança e do diálogo com professor para tirar suas dúvidas, pois estes alunos sabem que não terão uma resposta negativa ou até mesmo “opressora”.
 O afeto é facilitador da aprendizagem quando satisfaz as necessidades dos alunos. Com isso pode-se supor que, se não forem satisfeitas essas necessidades poderá haver dificuldades. Para este(a) aluno(a) o fato da professora se importar com seu conhecimento da matéria não só motiva como facilita a aprendizagem e apresenta-se como uma forma de identificação.

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